segunda-feira, 10 de novembro de 2008

“Nada nos abandona, a menos que nós a abandonemos primeiro...”



“Hoje, finalmente, sentei-me e desfolhei o livro do nosso amor... e-mails, mensagens, poemas escritos aqui e ali, fotografias... vasculhei todas as memórias... lembrei-me dos risos, da emoção, das alegrias, da paixão... lembrei-me das tristezas, das palavras incompreendidas, dos ciúmes, dos gestos menos nobres... revi tudo de fio a pavio... revi tudo com lágrimas nos olhos, o coração a transbordar de emoção e a alma em choque.

Hoje, finalmente, percebi o quanto te magoei por estar tão ferida contigo. Se pudesse voltar atrás apagava todas as minhas palavras ásperas, os meus gestos infantis, e substituí-as por diálogo, carinho e ternura. Magoaste-me profundamente porque estavas magoado com a vida, e eu não tive a inteligência suficiente para perceber isso e fechei-me... por cada mágoa que me infligiste, eu não soube dialogar e, ao invés disso, fui cavando um buraco cada vez maior, onde me enfiei pensando que, assim, me protegia da dor...

Hoje, finalmente, percebi a saudade que sinto de tudo em ti... do teu toque, dos teus beijos, das tuas rosas, dos teus telefonemas, da tua presença no meu sofá e na minha vida... e, até da tua falta de tempo para mim.

Hoje, finalmente, percebi onde o orgulho e o medo de sofrer me conduziram... a um caminho sem ti e sem retorno.

Hoje, finalmente, percebi que te perdi para sempre... mandei-te embora e deixei-te ir sem perceber o quanto isso realmente me afetaria... e, acima de tudo, sem te pedir perdão pela dor que te infligi, por não saber lidar com a dor que me causaste.

Hoje, finalmente, após todo este tempo, fez-se luz em mim e aprendi a lição... a ti, que te foste, só me resta humildemente pedir perdão...

Ah, como eu queria ter uma borracha... Um borracha daquelas que têm formato de fada, para apagar a nossa história no passado... assim podia apagar aqueles tempos rasgados de intempéries e maldades... e, reescrever a nossa história a caneta de tinta permanente e com aquela letra lindamente desenhada que aprendi a fazer na escola, nos tempos em que acreditar era tão fácil... e, redesenhava-a com todas as cores do arco-íris... reescrevia uma linda história de amor sem dor, cheia de sorrisos, alegrias e gestos bonitos... reescrevia como se fosse uma magnífica e pura rosa vermelha... reescreveria esquecendo-me dos amargos espinhos que me fizeram sangrar até à morte.

Juntava-lhe fotos felizes, rasgava as outras... juntava-lhe também as lembranças boas e apagava às más.

Fazia de ti o meu príncipe encantado, acariciava o teu belo corcel branco, e viveríamos felizes para sempre. Mas, a vida não é um conto de fadas e a nossa história tem sido povoada por seres não muito belos.

Ah, como eu queria ter uma borracha... Um borracha daquelas que têm formato de fada, para apagar a nossa história no passado...”

(Ana Lua)

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