
“Devia ser contida e orgulhosa, esconder-me atrás de um muro como ti, mas as janelas da minha torre são grandes demais e não as consigo fechar. Prefiro trocar o orgulho pela verdade, ainda que isso me retire mistério e encanto. De qualquer forma, já nada tenho a perder e é a verdade que nos leva a encontrar a paz, como sempre acontece em todos os finais.
Quando o coração morre, morre sempre devagar... Vai-se desfazendo como as folhas das árvores que caem no outono, folha a folha, até a última, tal como a esperança que um dia sucumbe à realidade e desiste.
Talvez o teu coração perca o medo de saltar para fora do peito e descubras finalmente onde pode ser a tua casa. Ou talvez o feches em fúria, me amaldiçoes por toda a sinceridade e despudor e o escondas num lugar perdido, para nunca mais ninguém o abrir.
Até lá, e porque a vida nunca é como imaginamos, espero por ti sem esperar, sonhando que aquilo que desejo, se for bom para mim e o melhor para o mundo, se realize e a tua ausência seja apenas uma etapa, a razão pela qual te escrevi este diário.
Talvez ele te sirva para te libertares dos teus medos, abandones a caverna e as suas tristes sombras. Se assim for, de alguma forma, terei cumprido a minha missão.
E mesmo que não te tenha nos meus braços, viverás em mim, por tudo o que te dei, apesar de saber que é muito difícil ajudar alguém que cresceu sozinho e se habituou a nunca contar com o amor e a dedicação dos outros.”
(Diário da tua ausência - Margarida Rebelo Pinto)
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